Muita gente que tenta adestrar o seu cão sozinho, sem a ajuda de um profissional, encontra certa dificuldade ao começar a inserir os primeiros comandos na rotina de treino do animal. Grande parte das pessoas, ao tentar ensinar um comando básico, como “senta”, ou “vem” pode achar moleza, mas quando tenta ensinar um comando mais complexo, como o “fica” ou o “rola”, acaba ficando frustrado com as inúmeras tentativas que acabam falhando.
“meu cachorro é burro!” “Ele é muito disperso” “ele não me respeita”. Essas são as principais reclamações vindas da maioria dos tutores. Mas será que a culpa é mesmo dos cães? Bem, há vários motivos pelos quais o treinamento pode não estar dando certo, mas é muito raro que o cão seja o culpado pelo fracasso. Quando nos dispomos a praticar uma atividade com a qual não temos tanta prática, acabamos, invariavelmente, cometendo muitos erros.
Com o adestramento não é diferente. O que acontece é que o nosso erro ou acerto reflete automaticamente no desempenho dos nossos cães. Se formos ótimos treinadores, nosso cão irá gostar de praticar e, por consequência, ficará entusiasmado e prestará muita atenção aos nossos comandos. Por outro lado, dependendo da forma como praticamos essa atividade, o cão pode simplesmente não ficar interessado em participar.
Aliás, por causa dessa dificuldade, eu criei e liberei GRATUITAMENTE, um desafio de 3 aulas, onde eu ensino atividades de ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL, que são perfeitas para ajudar o seu cachorro a cansar, exercitar a mente e o corpo e produzir hormônios do bem-estar e do relaxamento, que vão diminuir os níveis de stress, ajudando a solucionar vários maus comportamentos, como: ansiedade de separação, agressividade, medo, comportamentos compulsivos (lambedura, latidos, corridas atrás da cauda) e, obviamente, a destruição de móveis e objetos pessoais!
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Preste atenção aos principais erros que você pode estar cometendo na hora de ensinar o seu cão!
O treinador invisível
O treinador invisível é aquele que se propõe a treinar mas que, apesar de pedir mil vezes um comando para o cão, o cão parece simplesmente ignorar sua existência e continua pulando, correndo ou brincando com seus brinquedos. Isso está acontecendo porque você não está sendo divertido suficiente para que ele se sinta estimulado a interagir com você. Na maioria das vezes, isso acontece com cães muito agitados.
Caso você tenha um hiperativo em casa, você pode tentar fazer uma atividade física leve com ele, antes de treinar, para que ele fique menos ansioso e então terá um cão mais relaxado que estará mais propenso a prestar atenção em você. Mas lembre-se de não gastar toda a energia do seu cachorro. O seu cão precisa estar disposto para fazer os exercícios, caso contrário, treinar com você, em condições de esgotamento físico, será desgastante e nada agradável, o que fará com que seu cão goste cada vez menos de praticar!
O entediante
Esse tipo de treinador não consegue fazer seu cachorro ficar interessado em interagir com ele durante as aulas. O cachorro parece estar entediado e odiando estar ali. Isso pode estar acontecendo porque você não brinca com o seu cão durante o treino, não varia o seu tom de voz em momento algum e o tipo de estimulo que você está utilizando durante as aulas não condiz com o tipo de estimulo que desperta o interesse do cão. Isso vale para a forma como você se movimenta, a forma como você pede um comando, para o tipo de comandos que você requisita e a forma como você recompensa o seu cão.
Se você tem um cachorro agitado e pede que ele treine uma sequencia muito extensa de comandos “fica”, por exemplo, você não está correspondendo às expectativas do seu cão com relação a uma aula “contagiante”! Se você recompensa o seu cão com um “muito bem” displicente, ele não vai se sentir estimulado a permanecer prestando atenção em você, quando sabe que a única coisa que ele ganhará em troca será outro “muito bem” displicente.
Faça um treino dinâmico e dê ao seu cão o que ele espera receber. Se ele gosta de agitação, promova um treino agitado. Se ele gosta de carinho e mimos, use isso a seu favor! Uma dica é pedir uma sequencia de, no máximo, 5 comandos. No quinto, peça um comando que ele quase sempre acerte e logo em seguida pratique a atividade favorita dele por alguns segundos: pode ser carinho, jogar bola, fazer cabo-de-guerra, brincar de correr, etc. (passeio não vale – se o passeio for a atividade favorita dele, você deverá encontrar outra que substitua, para que o seu treino não fique prejudicado pelo tempo perdido em uma atividade que exija tanto). Depois volte ao treino e repita.
O sussurrante
O treinador sussurrante é aquele que pede os comandos sussurrando. Para que o cão preste atenção a um comando,é preciso diferenciar o tom de voz quando se faz uma solicitação ao cão. Da mesma forma que um professor eleva seu tom de voz para fazer uma pergunta à classe, quando vamos pedir que os nossos cães prestem atenção em nós, devemos utilizar um tom de voz alto.
As palavras devem ser ditas uma única vez, de forma clara e precisa, para que o seu cão ouça bem e compreenda as palavras. Por isso, quando for pedir um comando ao seu cão, procure falar como se você estivesse conversando com uma pessoa que perdeu um pouco da audição. Não seja rude, mas fale com clareza!
O impaciente
Esse tipo de treinador não consegue dar tempo ao cão para que ele aprenda uma lição de cada vez. Quer que o cão aprenda a dar um duplo twist carpado na primeira aula. Lembre-se: os seres humanos aprendem a contar até 10 antes de aprender a multiplicar. Os cães devem passar pelo mesmo processo de aprendizagem que os seres humanos, por isso, não adianta tentar ensinar comandos complexos ao seu cão antes de passar pelo roteiro de comandos básicos: vem, senta, deita, fica, etc.
Além disso, é muito importante que você tenha paciência quando o seu cachorro errar. Muitas vezes ele testará o seu comando para se certificar de que ele entendeu corretamente o comportamento que você está exigindo dele. Cabe a você sinalizar todas as vezes que ele tiver um bom desempenho e nunca corrigir o seu cão quando ele errar. Nós estamos na era do reforço positivo.
Se você quer que seu cão aproveite o tempo que tem com você e que ele se interesse cada vez mais pelo treino, nunca enfatize os seus erros. Ao contrário disso, ignore os erros e destaque os acertos.
O carrasco
O treinador carrasco é aquele que já pede o primeiro comando brigando, com tom de voz grave e ríspido. Muitas vezes, erradamente, usamos um comando para punir o cachorro como, por exemplo “Fica!” quando o cachorro não para de pular nas visitas. Quando expressamos sentimentos ruins como raiva ou impaciência através da nossa linguagem corporal, expressão facial e tom de voz e principalmente, quando, ao expressar esses sentimentos, nós os associamos a algum comando, esse comando específico provavelmente ficará registrado na memoria do cão como uma punição. Toda vez que ele ouvir esse comando, ele ficará tenso ou com medo. Para o treino funcionar corretamente, seu cão deve encará-lo como uma brincadeira! Esse é o tempo q vocês terão para interagirem um com o outro. Faça seu cão amar essa atividade!
O triplo comando
Esse é um dos problemas mais recorrentes entre os treinadores de primeira viagem. O triplo comando é aquela sequencia de comandos falados de forma rápida e com uma voz “empolgada”, que, sem querer usamos, na tentativa de estimular nossos cães: “senta, senta, senta” “tobby, tob, tobyyy”.
Os cães, como você deve saber, não falam português e, por isso, têm certa dificuldade em compreender a maioria das palavras do nosso idioma. Quando falamos uma sequencia de comandos muito rápido, os cães têm dificuldade em assimilar os sons produzidos pelas nossas cordas vocais (assim como nós temos dificuldades de entender uma frase falada de forma rápida em outro idioma que não dominamos). Além disso, alguns sons são muito parecidos aos ouvidos de um cão, como o som da letra “F” e da letra “S”. Quando falamos “senta, senta, senta” o som que mais é produzido é o som do “S” e quando falamos, por exemplo, “Fica, fica, fica” o som mais produzido é o som do “F”, tonando difícil para os nossos cães, distinguir os dois “comandos”.
Por isso é importante enfatizar bastante as vogais e falar pausadamente, com se estivéssemos ensinando uma palavra nova a um bebê ( PA-PAI, MA-MÃE, Á-GUA). Os cães focam quase 100% da atenção deles nas duas últimas sílabas que evocamos, por isso, não adianta darmos um comando muito extenso, como “fica quietinho, tá?”, pois, apesar de querermos que ele preste atenção na parte “fica quiet”, o que será absorvido será apenas o “tinho, tá?”, ou seja, esse comando seria melhor compreendido com uma palavra de duas sílabas, como: “fica”.
Devemos prestar atenção também nas palavras que usamos para traduzir os comportamentos que queremos induzir. Sem querer, acabamos falando muitos finais de frase ou comandos parecidos, como o “roda” e o “rola”. Os comandos devem ter entonação, gesto e sons diferentes. Se o “roda”, usado para pedir para o cão fazer uma volta caminhando, é muito parecido com o “rola”, usado para pedir para o cão rolar deitado, seria prudente substituir um dos comandos. Por exemplo, substituir o “roda” por “gira”!
O corcunda
O treinador corcunda é aquele que não tem uma postura adequada. Fica abaixado ou encurvado. Quando ficamos com a postura ereta, os cães prestam mais atenção, pois ficamos mais altos. Quando estufamos o peito, estamos demonstrando dominância e autoconfiança, ou seja, estamos fazendo o papel de um ótimo líder.
Os cães sempre seguem aquele indivíduo que transmite mais segurança a eles. Se você mantiver uma postura encurvada, estará emitindo uma atmosfera fraca e submissa, ou seja, seu cão pensará que é mais forte que você e que deve ser o seu líder e assim, jamais seguirá os seus comandos. Sempre que for treinar seu cão, ou no dia-a-dia, quando for dar uma ordem a ele, ponha-se de pé, fique ereto e estufe peito. Seja imponente e assertivo, assim, seu cão irá respeitá-lo muito mais!
O ilusionista
Cães que nunca foram treinados (ou educados) jamais prestarão atenção a um comando verbal ou gesto, simplesmente porque ainda não fizeram nenhuma associação entre um comando verbal e um comportamento. Por isso, usamos os alimentos ou brinquedos para fazer com que eles prestem atenção nas nossas mãos e, assim, sigam o movimento que elas fizerem.
A partir do momento que ele entende que, ao seguir as nossas mãos, ele receberá um petisco, ele tratará de focar sempre no caminho por onde elas estão indo. Por isso, durante o treino, nossas mãos devem se mover apenas quando estamos solicitando um comando ou oferecendo a recompensa (seja o alimento, o brinquedo ou o carinho). O treinador malabarista é aquele que tem mãos inquietas e que fica movendo-as para todos os lados, deixando o cão totalmente confuso, sem saber qual mão seguir.
Faça os movimentos de forma calma, com gestos claros e amplos. Imagine que você está ensinando uma criança a desenhar a letra “A” pela primeira vez. Você deverá fazer esse “A” lentamente, até que a criança entenda o caminho por onde o lápis deverá percorrer e só depois poderá aumentar a velocidade do seu desenho. Da mesma forma que você deverá induzir o seu cão, lentamente, das primeiras vezes e, só depois que ele tiver compreendido, quando ele estiver seguindo o percurso da sua mão de forma quase automática, é que você poderá aumentar a velocidade do seu gesto.
Além disso, os cães, por não terem as mesmas vocalizações que os seres humanos, quando estão no começo do treino, prestam mais atenção aos nossos gestos, por isso é imprescindível que os comandos “gestuais” sejam ensinados anteriormente aos comandos “verbais”. Depois que o cão tiver seguindo suas mãos com muita facilidade, você poderá dar o comando verbal antes do gestual, reforçando a associação entre a palavra e o gesto.
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